Tarifaço de Trump entra em vigor em meio a forte expansão de empresas brasileiras nos EUA
Com alta de 52% nos investimentos produtivos em solo americano, Brasil enfrenta maior taxação de sua história no comércio com os Estados Unidos
A partir da próxima quarta-feira (6), entra em vigor o tarifaço imposto por Donald Trump contra produtos brasileiros, medida que ameaça frear uma fase de expansão sem precedentes dos investimentos de empresas nacionais nos Estados Unidos. O aumento das tarifas para até 50% sobre a maioria dos itens exportados pelo Brasil ocorre no exato momento em que os investimentos brasileiros em território americano alcançam US$ 22,1 bilhões, um crescimento de 52,3% em relação a 2014, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Nos últimos cinco anos, o país anunciou mais de US$ 3,3 bilhões em projetos greenfield — aqueles que criam estruturas produtivas do zero — consolidando os EUA como principal destino das operações brasileiras no exterior. De 2013 para cá, foram implementados 142 projetos, envolvendo cerca de três mil empresas brasileiras, conforme levantamento da Apex-Brasil e da Amcham.
Entre os destaques estão gigantes como Embraer, Suzano, Taurus e JBS, que já planejam novas movimentações para mitigar os efeitos das tarifas. A Suzano, por exemplo, avalia a construção de uma fábrica de celulose de fibra longa nos EUA. A Embraer pode ampliar os investimentos de US$ 500 milhões previstos, dependendo do desempenho comercial do cargueiro militar KC-390 Millenium. Já a Taurus, maior fabricante brasileira de armas, considera transferir toda sua produção do Rio Grande do Sul para os Estados Unidos.
A JBS lidera os aportes dos últimos cinco anos, com US$ 607 milhões investidos, e já anunciou novas iniciativas no Texas, Colorado e Iowa. A Sustainea, parceria entre Braskem e a japonesa Sojitz, construirá uma fábrica em Indiana com investimentos de US$ 400 milhões. A Embraer, por sua vez, planeja ampliar sua unidade na Flórida e implantar um novo centro de manutenção no Texas.
Esse movimento é incentivado pelo programa SelectUSA, do governo americano, voltado a atrair investimentos estrangeiros. Ao todo, são 65 projetos brasileiros cadastrados que, juntos, superam US$ 1 bilhão e prometem gerar mais de 2.500 empregos diretos.
A presença brasileira já alcança pelo menos 23 dos 50 estados norte-americanos. A Flórida lidera com 12 unidades produtivas, seguida por Geórgia, Michigan, Minnesota, Missouri, Nova York, Tennessee e Texas. A cidade de Miami se destaca como centro estratégico, especialmente por sua proximidade com a América Latina.
Apesar do cenário promissor, o tarifaço de Trump lança uma sombra sobre o futuro dessas operações. O Brasil foi alvo de uma das maiores elevações tarifárias já aplicadas pelos EUA, com alíquotas saltando de 10% para 50% sobre uma ampla gama de produtos. Itens como carne bovina e café, por exemplo, ficaram de fora da lista de exceções, o que pode levar à queda nas exportações e, por consequência, à redução de preços no mercado interno brasileiro.
A medida começou em fevereiro, com o fim das isenções sobre importações de aço (25%) e alumínio (de 10% para 25%). Em abril, o plano de reciprocidade tarifária de Trump havia colocado o Brasil entre os países com menor carga, mas o novo decreto, assinado na última quarta-feira, reverteu essa posição.
De acordo com estimativas, entre 55% e 60% das exportações brasileiras aos EUA foram atingidas. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que o impacto inicial pode causar a perda de 110 mil empregos e reduzir o PIB em até R$ 19,2 bilhões. Já a CNI alerta que retaliações bilaterais mais severas podem eliminar até 5 milhões de postos de trabalho no Brasil nos próximos dez anos, com impacto de 6% no PIB nacional.
Mesmo diante do cenário adverso, o presidente da CNI, Ricardo Alban, defende a manutenção dos laços entre os dois países:
“O setor produtivo brasileiro vê na integração com os Estados Unidos muito mais que comércio: vê parceria. O avanço dos investimentos de ambos os lados, ao longo dos anos, reforça o caráter complementar e os benefícios mútuos dessa relação.”
Com eleições se aproximando nos EUA e tensões comerciais em alta, o futuro dessa relação segue incerto — e as decisões tomadas agora definirão o rumo do capital brasileiro no exterior.
