PEC da Blindagem expõe alianças e traições no Congresso

 Aprovação da proposta mostra conchavos políticos e prioridade aos privilégios, em detrimento dos direitos dos trabalhadores

Por Alisson Souza - 19/09/2025 | 11:22

(Imagem: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)



A chamada “PEC da Blindagem” representa um dos capítulos mais vergonhosos da política recente. A sua aprovação contou com uma aliança espúria entre parlamentares da direita bolsonarista, o centrão fisiológico e, para surpresa de muitos, 12 deputados do PT. Para piorar, até mesmo parte do Partido Democrático Trabalhista, fundado sob a herança de Getúlio Vargas, se rendeu à lógica dos conchavos. Os “vendidos” do PDT rasgam, assim, a própria memória do trabalhismo e traem a trajetória varguista, que nasceu para defender os direitos sociais e os trabalhadores brasileiros.

Não bastasse o mérito desastroso da proposta, o modo como ela foi aprovada revela toda a imoralidade do processo. Durante a madrugada, em meio à escuridão conveniente para quem prefere agir sem escrutínio público, os deputados passaram a PEC como se fosse uma operação clandestina. Engraçado ou melhor, trágicz, perceber como, quando se trata de beneficiar corruptos e assegurar impunidade, tudo é votado em caráter emergencial. Já quando o tema em pauta é de interesse do povo, como a redução da jornada de trabalho, o debate se arrasta indefinidamente.

A contradição é gritante: projetos que poderiam aliviar a exploração de trabalhadores submetidos a jornadas exaustivas, como aqueles que atuam em supermercados debaixo do sol quente, são sempre engavetados ou protelados. Essas pessoas, que ganham um salário mínimo, continuam sendo tratadas como descartáveis, enquanto os privilégios das elites políticas recebem prioridade absoluta. A lógica do Congresso atual mostra que há pressa apenas para blindar corruptos, nunca para proteger o povo.

O resultado é a corrosão da própria democracia e o desgaste da confiança popular nas instituições. Basta lembrar que o período em que o povo brasileiro conquistou mais direitos foi justamente durante o Estado Novo, quando nasceram a CLT, a industrialização de base e empresas estratégicas que moldaram o futuro do país. Paradoxalmente, foi em um regime centralizador que os trabalhadores foram ouvidos, enquanto na democracia periférica ao capitalismo em que vivemos, as leis continuam sendo escritas apenas pelos detentores do capital. Nessa ordem desigual, todos são formalmente iguais, mas alguns seguem sendo “mais iguais” do que outros. A aprovação da “PEC da Blindagem” apenas escancara esse abismo e mostra que, no Brasil, o poder raramente está, de fato, nas mãos do povo.