A nova ordem comercial dos EUA: tarifas sob comando de Trump elevam riscos globais

 Com taxas que chegam a 50% e negociações bilaterais arbitrárias, presidente transforma comércio internacional em sistema de preferências pessoais; consumidores e empresas americanas já sentem impacto dos custos.

Por Redação - 18/08/2025 | 06:00

(Imagem: Internet)


A cada dia que passa, a nova ordem comercial dos Estados Unidos fica mais evidente. Em vez de regras, estabilidade e tarifas baixas, há um sistema de preferência imperial. As tarifas não são apenas mais altas, elas são definidas pelo capricho presidencial. O Canadá e a Índia, por exemplo, irritaram Donald Trump e, por isso, podem enfrentar tarifas de 35% a 50%. Para afastar as ameaças, a União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul apressaram-se a fazer acordos com os Estados Unidos. Como Trump considera os déficits, estranhamente, como roubo, impôs tarifas “recíprocas” que variam de 10% a 41% a dezenas de outros parceiros comerciais, em vigor desde 7 de agosto.

Uma ideia sedutora se consolidou entre apoiadores de Trump: como o presidente está no comando, os Estados Unidos estão ganhando. O mundo não mergulhou em uma guerra comercial total; apenas alguns países, como a China, retaliaram, enquanto a maioria cedeu, aceitando tarifas mais altas e prometendo investir em solo americano. Até mesmo os mercados financeiros parecem endossar essa visão. No entanto, especialistas alertam que esse pensamento é equivocado: Trump iniciou algo que poderá levar os Estados Unidos a perderem competitividade global.

Segundo o Yale Budget Lab, a taxa tarifária efetiva americana saltou para 18%, quase oito vezes maior que no início do mandato e em níveis não vistos desde a Grande Depressão. Embora a alfândega arrecade cerca de US$ 30 bilhões por mês, os custos recaem majoritariamente sobre consumidores e empresas do próprio país. Estimativas do Goldman Sachs indicam que 80% das tarifas já foram absorvidas internamente. Montadoras como Ford e GM relatam custos adicionais de até US$ 1,1 bilhão apenas no segundo trimestre.

Apesar de o índice S&P 500 se manter em alta e o dólar relativamente forte, analistas atribuem essa resiliência ao boom da inteligência artificial, e não à política tarifária. A médio prazo, os efeitos já aparecem: crescimento abaixo do esperado no primeiro semestre de 2025, inflação persistente e desaceleração na criação de empregos.

Mais grave, segundo especialistas, é a erosão do sistema multilateral de comércio, substituído por negociações bilaterais imprevisíveis. Trump concede isenções quando elogiado e ameaça com tarifas quando contrariado. Essa dinâmica pode criar instabilidade crônica nas relações comerciais globais.

Fonte: Estadão